por Natália Ferreira Barbosa
& Arthur Saldanha dos Santos
A comida pode ser compreendida como um tipo de símbolo da cultura de determinado povo, grupo ou região (Montanari, 2013); central nos aprendizados e saberes passados de geração em geração e na forma como se manejam e se utilizam os recursos locais da biodiversidade.
Com esse viés, em uma busca rápida pelas mídias sociais, como o Instagram, é possível notar que a cozinha mineira tem sido percebida como um elemento capaz de expressar a identidade dos mineiros, nas mais distintas regiões que compõem o Estado. As mídias traduzem que é impossível pensar na culinária mineira sem sentir o cheiro e o sabor do tutu, feijão tropeiro, torresmo, carne de lata, doce de leite, angu, frango caipira, quitandas, queijos, cachaça, cafezinho, pão de queijo e tanto outros alimentos. Associado a essa comida, aparecem representações de aconchego, nutrição, curiosidade e memória afetiva (principalmente entre as pessoas que estão distantes das minas gerais), e os espaços e ambientes dos quintais e fogões à lenha das áreas rurais.
Ingredientes como milho, mandioca, feijões, arroz, carnes (frango, boi e porco), hortaliças e temperos estão na essência dessa culinária, além de frutos da biodiversidade nativa e de produtos realizados a partir do modo de fazer e dos saberes tradicionais de povos e comunidades. Um conjunto de alimentos que representam gostos e modos de fazer regionais, e refletem a diversificada ocupação do território, marcado por múltiplas influências e culturas.
Mas para além da sua dimensão popular, durante anos, a comida mineira é interesse de restaurantes populares e de alta gastronomia, de profissionais da alimentação e estabelecimentos comerciais, como empórios, bares e lanchonetes. Nestes contextos, ela evoca e comunica um imaginário de comida caseira, afetiva, farta, de sabores genuínos e artesanais, com ingredientes dos quintais e das roças.
Por trás da existência e disponibilidade destes alimentos, está o trabalho das agricultoras e agricultores que os produzem, que cuidam, que compartilham e que comercializam; assim como o de pescadores e comunidades que manejam e extraem recursos das florestas e dos cerrados, compartilhando saberes e cultivando uma alimentação repleta de história, tradição, afeto e simplicidade.
Com a ajuda da inteligência artificial, em uma consulta rápida ao ChatGPT (o mesmo tratado no informativo anterior), usamos a palavra-chave “comida mineira” para solicitar uma síntese que pudesse caracterizar esse termo. Os resultados indicaram que ele está relacionado com a riqueza dos sabores e a variedades da alimentação no estado de Minas Gerais, com destaque para o feijão, o arroz, a carne de porco, o frango, o queijo, a mandioca, o milho e a couve como ingredientes mais utilizados.
Essa inteligência artificial informa ainda que esses ingredientes estão relacionados a pratos típicos e regionais, sendo os mais populares encontrados também em outras regiões do páis, tais como: o feijão tropeiro, tutu de feijão, frango com quiabo, feijoada, arroz com pequi, vaca atolada, leitão à pururuca, pão de queijo, frango com angu, canjiquinha com costelinha e o famoso queijo. O ChatGPT dá destaque ainda para às sobremesas mais comuns na culinária mineira, como o doce de leite, bolo de fubá, bolo de milho, queijo com goiabada, biscoitos, doce de abóbora com coco, pão de mel e broa de fubá.
Chama à atenção a menção ao pão de mel. Teria este doce típico da Rússia caído no gosto dos mineiros, a ponto de ser considerado também de Minas? Podemos acrescentar à lista as bananadas, o doce de queijo, doce de mamão, doce de laranja da terra, de buriti, rapadura, pé de moleque e outras iguarias; frutos da junção de técnicas e preparos das cozinhas indígenas, europeias e africanas, adaptadas aos recursos locais e às práticas e modos de fazer.
A nossa breve pesquisa não foi limitada apenas à noção de comida mineira. Nos interessa analisar as relações dessa comida com a biodiversidade e a cultura alimentar, a partir da forma como ela é representada. Ainda com o auxílio da inteligência artificial, realizamos uma pesquisamos a partir da palavra-chave: “comida da biodiversidade mineira”. Os resultados apontam que a biodiversidade do território influencia de várias formas a comida mineira, fornecendo uma variedade de ingredientes locais e sabores únicos aos pratos típicos, marcada também pelo clima específico de algumas regiões, como são os casos de áreas conhecidas pela produção de queijo como Serro e Serra da Canastra. Outros resultados também ressaltam a riqueza da flora e da fauna do Estado, que contribui para a manutenção dessa diversidade alimentar, que inclui ingredientes como pequi, jiló, quiabo, ora-pro-nóbis, ciriguela, tamarindo, mangaba, buriti, cagaita, guabiroba, cana de açúcar, além de mel, cogumelos, café, mandioca, abóbora e tantos outros.
Repassada historicamente pelas cozinheiras das famílias em áreas rurais e pequenas cidades do estado, as receitas da identidade gastronômica dos mineiros se transformam no trabalho de chefs de cozinha renomados, que propõem releituras e novas combinações, com ingredientes tradicionais locais e de outras regiões do mundo. Muitos desses chefs utilizam as mídias sociais para compartilhar suas preparações e atrair olhares de curiosos e apaixonados por essa comida, tendo em vista o aumento do interesse de pessoas por temas a ela relacionados na internet. Isso faz com que a comida mineira ganhe cada vez mais espaço, instigada principalmente pela divulgação nas redes e pela prática crescente do turismo gastronômico no Estado.
Em ditado popular, podemos arriscar dizer que a comida mineira “atende a gregos e troianos”, apresentando opções que agradam tanto pessoas sem restrições, que adoram conhecer pratos novos ou que querem comer a mesma comida por paixão, quanto pessoas com dietas estritas, vegetarianas e veganas, pessoas com o consumo de carne limitado, como flexitarianos, e ainda os amantes de gorduras, doces, bolos e cafés.
Diversa nas preparações, contos, história, produção, comercialização, compartilhamento e consumo, a comida mineira configura-se como uma importante cultura alimentar no Brasil, com influência internacional. Construída e compartilhada a partir da miscigenação entre os vários povos que habitam e passaram por esse território, é encontrada em outras regiões e não só em Minas Gerais.
Portanto, a comida mineira está logo ali!